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Solar Quest - Acid Air Raid

Há muitos anos atrás, quando me iniciei no mundo da Internet, coloquei a mim um objectivo: perceber qual o fascínio da "musiquinha de martelos". Eu não percebia, mas tanta gente ouvia que queria perceber o  porque. Saquei na altura ainda bastantes músicas de "dança", mas eu não percebia nada, nem sabia o que haveria de sacar, por isso era tudo ao calha. Ao fim da audição de algumas músicas comecei a perceber que havia algumas diferenças, tudo o que fosse descrito como tekno odiava, algumas descritas como house ouviam-se, e o que vinha etiquetado como trance gostava. Mesmo não sabendo qual a diferença entre os géneros (e nem entrei nos sub-géneros), comecei a sacar apenas o que dizia trance, e mesmo que nem gostasse de tudo (o que é perfeitamente normal, em todos os géneros há coisas boas e más), de vez em quando sacava uns sons que gostava bastante. Um deles foi esta Acid Air Raid, que apesar de nunca me ter aventurado muito profundamente na música, continua a ser, apesar de tudo, a minha música favorita de tudo o que já ouvi do género.
Hipnótica, explosiva e poderosa. Doze minutos de uma intensidade quase violenta. Ou como por vezes, há mesmo pequenas pérolas espalhadas por aí, basta abrir a mente para as ouvir.



Nattsmyg - Fjättrad

Uma das discussões mais inúteis que existe na música nacional é sobre a questão da língua em que se canta. Dum lado, músicos ultrapassados, cheios de inveja da nova geração, atiram o argumento salazarento de que cantam em Português para salvaguardar a nossa cultura, defendem o que é português. Mesmo que muitos deles nunca tenham escrito uma letra na vida, e mesmo que muitos deles caso alguém lhes desse alguma coisa em troca seriam os primeiros a cantar noutra língua qualquer. Do outro lado, músicos mais jovens, atiram o argumento de que em português ninguém os entende e querem tentar uma carreira internacional. Mesmo que a maioria nunca saia do seu canto, porque rapidamente percebem que o mercado internacional não faz a mínima ideia de quem eles sejam, e dá muito trabalho darem-se a conhecer fora do circulo fechado dos seus amigos.
Um dia pode ser que se perceba que a Música não é Poesia, é uma Arte diferente, universal, e a língua em que se canta é completamente indiferente.

Nattsmyg, nem sei o que isso significa. Fjättrad, idem aspas. Nem sei o que eles cantam, ou sobre o que, mas que é uma excelente música, isso é, pode até ter uma letra miserável, pode até ser uma letra divinal, mas que interessa isso? É uma música linda, capaz de nos encantar com a sua melodia suave, e não é isso, e apenas isso que interessa? Ok, uma letra também pode ser muito importante, mas mesmo sem ela, a Música canta por si.


Entremuralhas 2012



Por vezes uma boa ideia não chega. É preciso conhecimento, saber, trabalho. Mas por vezes mesmo todos esses factores não chegam. É preciso algo mais, talvez sorte, e uma boa ideia fica aquém do que poderia ter sido.
Mas às vezes, muito raramente, uma boa ideia, levada a cabo por pessoas que sabem, trabalham, e conhecem o chão que pisam, vão alem da boa ideia, não sei o que será, pode ser magia, não sei, mas que o resultado é mágico isso é.
Depois de dois anos impossibilitado de ir ao Entremuralhas, este ano, finalmente fui, e o resultado foi muito além do que imaginei sequer. Dar os parabéns às bandas, à organização, ao público, talvez seja um mínimo, mas um mínimo insuficiente. O resultado pareceu-me muito além da mera soma de todas as partes. Um fim de semana que na falta de melhor palavra só pode ser descrito como mágico.
Claramente a repetir.
Uma singela música de uma das bandas participantes. E que experiência é ouvir música assim a olhar a lua a recortar as ameias do castelo de Leiria com o seu luar de Agosto.




Neige et Noirceur - Hymne III




O black metal é provavelmente o subgénero musical mais obscuro que existe. Não é qualquer proto melómano que consegue entrar à primeira na sua beleza. Não é fácil de entender, não é fácil de ouvir, não é fácil de seguir. É preciso mergulhar bem fundo nas suas águas turvas, negras, gélidas, para conseguir entender qual o seu fascínio, qual a sua intensidade. E como se sonoramente já não fosse simples de acompanhar, ainda há o bónus de ser um movimento muito disperso, por editoras e bandas que raramente conseguem ser conhecidas por mais que um punhado de convertidos que buscam incessantemente por novas bandas e sonoridades.
Mas de vez em quando, um som rasga o negro. Um som gelado, cortante, intenso… Neige et Noirceur. Uma banda canadiana, que talvez inspirada pelo gelo e pela neve, recria um som de uma vastidão gelada, com um riff de guitarra que abre a música como vento gelado, e mistura esse riff transbordando black metal por todos os poros com algumas passagens de doom. O resultado final é uma bela peça musical, feita de extremos. Ou como o black metal, ao contrário do que os seus mais ferrenhos puristas defendem, não perde a sua essência ao evoluir e mesclar-se com outros géneros. O black metal na sua essência primordial é um som feito de gelo e intensidade. E felizmente não estagnou, antes pelo contrário, mantém-se tão válido e refrescante como aquando da sua génese.

Sigur Rós - Varúð


Se há banda na qual um vídeo-clip é superfulo, essa banda são os Sigur Ros. A sua música é tão intensa, pessoal, intima, que deve ser ouvida de olhos fechados, e as imagens que nos afloram a mente, de tão intimas, de tão intensas, não podem ser reproduzidas massivamente, num vídeo para todos verem as mesmas imagens.

Se há banda que usa os vídeos de uma forma artística sem precedentes, cujos vídeos são mais que provavelmente os melhores vídeos que uma banda alguma vez fez, essa banda são os Sigur Ros.

Mas apesar da beleza avassaladora dos vídeos, apesar de obras de arte irreais de uma beleza quase fantasmagórica, a música essa é soberana. Há quem diga que a sua música é a música de anjos na Terra, uma beleza que não é deste mundo, uma intensidade tal capaz de esmagar qualquer pessoa que a ouça. Eles dizem que a sua música não tem classificação, não é parecida com nada que foi feito até hoje, eles fazem música para mudar a Música, apenas isso. Quem os ouve, não consegue ficar indiferente, é verdade, há um antes e um depois, qualquer músico depois de os ouvir sabe perfeitamente que a música está a entrar num novo paradigma, em que o som já não são notas (como Bach as formatou), já não são cores (como Hendrix as via), não... São emoções, são sons capazes de interagir com o ouvinte a um nível emocional, físico. Basicamente o que a grande Música sempre foi, mas nunca, nunca, nunca, a este nível!

Palantir - Pisces and Cancer II



Conhecem aquela sensação de descobrir uma música fabulosa? Daquelas músicas que logo á primeira vos atinge no âmago, e que sabem imediatamente que será uma música a ouvir para o resto da vida? Pois preparem-se, e agucem o vosso bom gosto. Terão essa experiencia dentro de momentos.

A banda? Palantir! Escusam de procurar na base de dados da vossa mente, a banda é novíssima, não tem passado, é uma one-man-band, e o miúdo tem 25 anos, nunca tocou em nada que se visse, e vive num recôndito estado da América profunda. Gravou um disco, um singelo disco (e todo ele é brilhante), e fechou o disco com esta canção, porque é este o caminho que quer seguir no futuro. Esta canção destaca-se, não por ser muito diferente do resto, mas porque com esta canção conseguiu atingir aquele estado especial, apenas disponível a algumas canções. Não tem nada a ver com o som, com a qualidade musical, com a profundeza, com nada disso que faz uma boa canção. Porque há boas canções e depois há coisas assim: canções boas, com tudo o que faz uma boa canção, mas com o extra de tudo encaixar, tudo fazer sentido, desde o primeiro som que nos agarra, até ao último fade-in e silêncio final. Cada pormenor, cada som, cada instrumento que entra, cada nota, tudo é assim porque nem faria sentido de outra forma. Tudo nos leva numa viagem sonora que nos agarra pelo espírito dilacerado e nos atira aos céus, á estratosfera.
É aquele lick, que promete, promete muito, parece vento que cresce, são os pormenores de notas que pairam, fantasmagóricas, tensão… E entra aquela voz, à Burzum, o vento cresce, inflama-se parece que vai queimar, explodir… mas não… entra um novo lick de guitarra, suave, ameno, belo, reconfortante… beleza transcendente, a voz sempre em baixo, sempre adivinhando-se, nunca se insinuando, embalando, rasgando friamente o todo, prometendo tempestade, negro, mas apenas dá lugar aquele som quente e tépido da guitarra. Luz! É um jogar constante entre luz e sombras, quente e frio, uma luta entre o bem e o mal. E quem ganha? Ganha aquela guitarra acústica, que no fim aparece, acalma o todo, dança com o calor da guitarra eléctrica, antes desta se calar, e canta-nos solitária no fim antes do silêncio final… Nem faria sentido de outra forma. Um poema musical.


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Anathema - Untouchable, Part 1



Confesso que é a minha banda favorita há já alguns anos. A banda que me excita antecipadamente com nova música porque é quase certo que só pode sair genialidade. Mas confesso também que quando saiu o Hindsight, uma espécie de best of com releituras acústicas das músicas com cordas, apanhei uma grande desilusão, estava muito àquem do que já os tinha feito ao vivo, o estúdio matou a emoção. E confesso também que o último disco, demasiado adiado, demasiado aguardado, para mim é provavelmente o pior disco da sua carreira. 

Mas dentro de pouco mais de um mês há novo disco, e já ouvi as duas músicas que já foram lançadas. E se o primeiro lançamento ficou novamente a saber a muito pouco, quando comecei a ouvir esta Untouchable, Part 1, os primeiros minutos quase quase me fizeram ter a certeza que os Anathema, tal como todas as bandas da história da música, já tinham passado o seu auge, e já estavam na parte descendente da sua carreira. Não era muito grave, acontece a todos, até aos génios como os Anathema, só génios que morrem aos 27 anos ficam com o talento cristalizado, quem segue essa coisa chamada vida, tem tendência para continuar a evoluir, e quando o que está para trás é irrealmente brilhante, tudo o que sai de novo tem tendência para soar pálido, e muitas vezes isso nem tem a ver com a música em si, tem a ver com a ligação emocional que nós, enquanto ouvintes, temos com a música que foi lançada. 

Mas... a partir dos 3 minutos, mesmo sem nenhuma ligação emocional, nenhuma história, esta música cresce e cresce e cresce. Não, nunca fui consolado por esta canção, não tenho nenhuma ligação emocional com esta música, estou a ouvi-la pela primeira vez neste preciso momento (pela segunda enquanto escrevo), e duas coisas me assaltam a mente. Primeira, os Anathema ainda são a melhor banda do mundo, e o novo disco ainda tem a promessa de ser brilhante e genial e de nos acompanhar por muitos e bons anos, ainda teremos história e ligação emocional com estas músicas, ainda são uma banda que promete que um novo disco seja um marco nas nossas vidas que nos acompanhará por muitos anos, com músicas que nos farão sentir e emocionar. Segunda, como é isto possível? Como é possível que uma banda com mais de vinte anos, que já mudou radicalmente o seu som, que já tem a história que tem, ainda tenha o condão de nos emocionar, surpreender, desiludir e novamente fascinar? Como é possível que vidas passadas (sim, porque já foi noutra vida que os conheci), ainda seja uma banda fresca, em constante evolução e principalmente, que nos consegue fazer segui-los, como se fossem um amigo que está sempre ao nosso lado, ou um amor eterno com a capacidade única, sim única, de mudar, evoluir, e levar todos os seus fãs atrás, enlevando-os no seu abraço de pura genialidade musical? 

Não há nenhuma banda na história da música mundial com este condão. Ninguém mudou tão radicalmente, evoluiu tão constantemente, e manteve a sua base de fãs pregada e fascinada no que continuam a fazer, mesmo 20 anos depois.

Certa vez, há uns anos, li algo sobre os Anathema, que a pior coisa que se pode dizer deles é que são a segunda melhor banda de sempre de Liverpool. Sim, isto é a pior coisa que se pode dizer deles. Mas um amigo meu, cinquentão, professor de música, disse-me certa vez assim "Pois para mim são a melhor." Sejamos honestos, há bandas com a carga mítica e intocável de serem "das melhores bandas de sempre" The Beatles, Led Zeppelin, Queen, The Doors, Nirvana, Pink Floyd... São sempre as mesmas, e todas elas têm os números de vendas por trás que lhes dão um estatuto inabalável. Os Anathema não poderão nunca atingir esse estatuto, a não ser que de repente o mundo fique justo e vendam 20 ou 30 milhões de discos de repente, mas dessas bandas míticas, quantas têm a carreira tão certa, brilhante e fenomenal dos Anathema? Quantas revolucionaram a sua Arte duma forma tão constante e brilhante? Durante tanto tempo? Pink Floyd, mais nenhuma. Meus amigos, estarão os Anathema a caminho de se tornarem das melhores bandas de sempre? Pois é mais que óbvio que já são, façam favor de ser justos e comecem a mete-los naquela lista exclusiva, comprem a porra do disco, estes gajos merecem milhões e milhões de discos vendidos. Melhor banda do mundo? Actualmente sim, mas isso já começa a parecer pouco...

F.O.D. - Acona Batata




Talvez seja melhor começar por explicar a história desta música.
Esta musica não tem história. É apenas um simples exercício, um treino, levado a cargo por um produtor de nome Daniel Cardoso, aquando da inauguração do seu estúdio UltraSound Studios. De modo a expandir a sua técnica enquanto produtor, resolve misturar o imisturável: musicais da Disney com death-metal. Cria uma banda fictícia, e brinca um bocadinho com os seus instrumentos, convida alguns amigos, e sem mais nada que não apenas a inspiração, experimentação e improviso... Cria uma pequena-grande obra-prima.

Tudo começa duma forma bastante plácida: uns teclados bonitos, uma voz suave, algo muito familiar, muito... Disney, podendo ser cantarolado por petizes e graúdos. E de repente... Um riff demolidor, pesado, avassalador, acompanhado por uma voz grunhida, imprópria para consumo por mentes inocentes ávidas pelo entretenimento inócuo do universo Disney. O resto da música continua sempre nestes dois extremos, mas de uma forma brilhante, musical, melódica, pesada, extrema e com muito bom gosto (excepto no humor desenfreado da parte final da música, mas não nos podemos esquecer que isto é uma brincadeira de jovens imberbes ou pouco mais que isso).

Se esta música foi um teste ás capacidades de Daniel Cardoso, não admira que de lá para cá, o seu estúdio se tenha tornado um dos mais requisitados em Portugal, que tenha produzido já inúmeros nomes de um estatuto lendário, e que inclusivamente neste momento seja o baterista dos monstros sagrados Anathema. É que quando o talento é realmente genuíno, ele nota-se em tudo, até em pequenas brincadeiras de estúdio, que nunca seria suposto sair de uma gaveta.

Aleah - Breathe



Por vezes há pequenos tesouros escondidos no meio de uma imensidão de ruído. Nunca tinha ouvido sequer falar de Aleah, e uma rápida e fugaz consulta através do You Tube deu-me a descobrir algo que está muito perto do maravilhoso. O único senão é que as músicas acabam por ser demasiado semelhantes entre si, mas isso pode até ser positivo no disco, pode até ser que o disco funcione como um disco deve funcionar, como uma viagem constante e hipnótica. A ver... Mas assim de repente, uma voz e um som sedutor.

Nine Inch Nails - Hurt



Esta é uma canção, e uma versão muito peculiar, para não dizer única.
Aqui, temos o autor de uma música, a ter que competir com uma versão magnifica, popularizada por um outro interprete. A quem pertence afinal a canção? A Trent Reznor, que é afinal o seu autor, ou a Johnny Cash, que a fez sua com uma interpretação avassaladora? Esta versão, tira todas as dúvidas, e é o exemplo-mor de uma verdade universal, tantas vezes esquecida: uma canção não pertence a ninguém em particular, é uma entidade viva, sentida e interpretada à sua maneira por quem quer que seja, autor, interprete, ou mero ouvinte.
Uma canção magnifica, e isso é o que é mais importante. Duas leituras magníficas, intensas, esmagadoras. E para quem acredita que a versão do Cash é imbatível... Confessem... O autor consegue fazer-vos hesitar nessa afirmação, ou não?

The Doors - She Smells So Nice

Não é excitante quando uma banda antiga, que já faz parte da história, divulga assim vindo do nada uma nova música, que andou perdida anos e anos em fitas perdidas sabe deus aonde? Pois desta vez, calhou aos Doors, divulgarem uma música já com 40 anos, perdidas nas fitas originais das gravações do disco L.A. Woman. E o que se poderá dizer desta nova canção agora divulgada? Bem... Pouco se poderá dizer, não é que vá fazer alguma diferença no mito dos Doors e de Jim Morrison, esse está alicerçado já há bastantes décadas, e não é esta música que o irá aumentar e diminuir. Apenas poderemos dizer que é uma faixa que se ouve bastante bem, com um ritmo groovy, não tão bluesy como outras músicas do mesmo disco, nem psicadélica como outras, uma singela canção, interessante de se ouvir, mas que qualquer fã hardcore dos Doors pode passar bem sem ouvir. Apenas pela curiosidade.


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