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My Dying Bride - For My Fallen Angel

Chover no molhado… não sei quantas vezes já eu falei desta música, nem sei quantas vezes até já escrevi desta música. Mas sei que esta é das melhores músicas jamais escritas por um ser humano. De tanto CD que gravo com músicas soltas, é certo e sabido, esta está na maioria dos CDs. No mp3 nunca de lá sai. Já ouvi esta música milhares e milhares de vezes, e de cada vez que a ouço, a minha espinha arrepiasse, os meus olhos cerram-se, o meu espírito enche-se, transborda de um sentimento estranho.
Não é apenas a sua beleza, nem é apenas a sua intensidade. Não, não é apenas isso. É algo mais, algo mais que esta música possui, que nos entra na alma, nos dilacera, mexe e remexe no mais íntimo dos nossos sentidos. Duma forma tão simples, tão pura, tão etérea, esta música toca num qualquer sentido obscuro, e deixa-nos a nu, despidos de todo o exterior, esmagados na mais pura essência que dela emana.
Um teclado, um violino, uma voz, e uma letra… Assim se faz uma das mais belas experiências que o ser humano pode sentir. Sentimento na sua mais pura forma. Beleza no seu expoente máximo…


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Jeff Buckley - Hallelujah

Antes de Leonard Cohen ter tido a sua voz “destruída” pelos inúmeros cigarros fumados, tinha uma voz suave e cândida. Mas quando compôs esta canção, já a sua voz tinha a densidade dos anos.
Anos depois, inúmeras interpretações depois, um jovem de voz cândida, suave e angelical interpretou essa canção e conseguiu diferenciar-se de todas as outras interpretações.
Reduzindo a canção quase ao mais básico, fez-se acompanhar de uma guitarra eléctrica deambulando por paisagens etéreas e colocou todo o ênfase na voz. Naquela voz pura, angelical, sussurrante, que agride de tão frágil e poderosa que é.
O que ficou foi uma interpretação memorável, porque a voz frágil e poderosa de Jeff Buckley é o veículo perfeito para as emoções encerradas nesta composição. Um misto de fragilidade e poder. Um fascínio hipnotizante por algo que queremos ser mais forte que nós, uma entrega incondicional, o sentir-se humilde e frágil e ao mesmo tempo protegido e forte. O render-se a uma esperança de salvação, com a consciência que podemos ser destruídos. Não, “Love is not a victory march”. Todos sabemos isso, todos sabemos que “It's a cold and it's a broken Hallelujah”, mas poucas vezes quanto nesta canção esta certeza é tão violentamente cravada na nossa alma.


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Celtic Frost - A Dying God Coming Into Human Flesh

Existem poucas bandas com o culto dos Celtic Frost. Também existem poucas bandas com a sua influencia, importância e qualidade. Oriundos do mais improvável dos países europeus (Suíça), nos anos '80, a sua forma de estar na Música revolucionou por completo o underground europeu, e formaram juntamente com os Bathory e os Venom as bases daquilo que mais tarde se veio a denominar black-metal, muito embora, o seu líder Tom G. Warrior já tenha confessado que detesta black-metal, a sua busca nunca foi uma qualquer ideia de extremismo sonoro, visual ou lírico, mas sim expandir a Arte musical além dos limites em que estava estrangulada, e para si o termo extremo tinha mais a ver com "alem do normal" que propriamente "fora do normal". Pormenores...

A dada altura os Celtic Frost separaram-se, e em 2006, aquando do seu regresso (antes de se separarem novamente o ano passado), o album "Monotheist" foi recebido com a curiosidade devida a quase duas décadas de ausência, duas décadas em que o seu culto cresceu na proporção em que as suas sementes lançadas também cresceram, ou seja, depois do nascimento, maturação e dispersão do black-metal. Na altura talvez ideal, no momento em que o black-metal já estava a se reencontrar com a filosofia original dos seus criadores, mais centrado na expansão de ideias que propriamente em se centrar na mesma ideia de extremismo que já estava a ficar saturada (ou não).

Faixa 3 do disco, A Dying God Coming Into Human Flesh. O seu início é fantasmagórico, calmo, assustador, uma voz que canta quase que murmurando numa cadencia que cresce, não duma forma audível, mas sente-se um crescendo, uma tensão, como uma ameaça prestes a explodir, mas uma ameaça inatingível, como que fora deste mundo, ou como diz a letra, um frio... Um frio que toma conta de tudo, um frio que se torna tudo... "And all is cold. And cold is all."...
E de repente... um acorde explode! E nessa altura já estamos embrenhados na música, no lick de guitarra que nos embala, no peso da guitarra que nos prende, no peso que nos esmaga, na voz que nos dilacera enquanto nos encanta... e quando a bateria começa a voar já perto do fim, e a voz nos repete "I am a dying God, coming into human flesh" não podemos deixar de pensar que esta talvez seja uma viagem assimétrica da jornada de Dante. Aqui não começamos no Inferno para chegar ao Paraíso, aqui começasse no Paraíso e caímos que nem anjos perdidos no fundo do Inferno. Pelo menos durante 5m39s...

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Kristin Hersh - Your Ghost

É comum encarar-se uma canção enquanto uma coisa "morta". Depois dela ser gravada, editada, geralmente é assim que ela fica para a posteridade. mas as canções são entidades vivas, que se vão mudando, alterando, construindo ao longo do tempo. Será que sempre bem? Há canções que ao fim de alguns anos a serem tocadas ao vivo são coisas completamente diferentes, mas por vezes nem demora muito tempo a mudarem, e pior, há canções que vivem tanto de um momento, um singelo momento irresistível de quando foram gravadas, que por vezes é complicado repetir a sua magia.
A música de que hoje quero falar não está em nenhum disco, a versão final é um dueto entre Kristin Hersh e Michael Stipe dos REM, a versão de que quero falar é a versão da demo, a versão gravada antes do disco.

É óbvio que o esqueleto é o mesmo, a música é a mesma. mas nesta versão, despida ao mais puro da sua essência musical, a música tem um encanto que na versão final não tem. A música está o mais simples possível, respira, consegue assim, despojada de artifícios (ou pelo menos, com o mínimo possível) atingir o âmago daquilo que pretende. Uma música de uma beleza simples, que consegue dizer tudo o que quer... E principalmente, consegue fazer-nos sentir a música!

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Current 93 - Sunset (The Death of Thumbelina)

já aqui falei de Current 93, mas não podia deixar de falar aqui também desta música, numa abordagem completamente diferente da anterior música que falei.

As premissas continuam as mesmas, simplicidade, voz e letras. mas em vez do ritmo quase industrial cheio de distorção, nesta música a ambiência é feita com uma guitarra acústica, dedilhada, repetindo ad eternum o mesmo riff, na melhor forma folk. O pormenor que aqui mais dá nas vistas, é um violino que se expressa, no final de cada frase, oferecendo ao todo uma aura elegante, misteriosa, quase mágica.
Uma música de uma beleza muito especial, ideal para ouvir nestes dias cinzentos, com o vento e a chuva a beijarem a janela.

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Current 93 - Black Ships Ate The Sky

A simplicidade é complicada. Mais até que fazer uma música cheia de acordes, com muitas notas, muitos ritmos complicados. Fazer uma música simples, directa, e principalmente, boa, é muito complicado.
David Tibet, um músico obscuro, prima por composições simples, baseadas principalmente na beleza intrínseca de certas harmonias, de certas melodias. E embora pessoalmente não conheça muita coisa do seu vasto reportório, o pouco que conheço é simplesmente divinal. E no meio desse pouco que conheço, há uma música que prima pela diferença. Simples, muito simples, um baixo e duas guitarras. sempre a mesma nota, sempre o mesmo acorde, sempre o mesmo ritmo, atacado sempre no tempo certo. Uma das guitarras deriva por paisagens sujas ao melhor estilo de rock alternativo e sujo, mas isso é irrelevante. A música é sempre aquele ritmo industrial, e a letra, a voz, numa pungente e pujante interpretação. Intenso, poderoso, hipnótico. Capaz de nos esmagar... Brilhante!!!

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Strapping Young Lad - Bring On The Young

Silêncio... Condição essencial para existir música. A música não passa duma dança entre o silêncio e o som, nas suas diferentes alturas e intensidades.
E é assim que começa esta música, silenciosamente, hesitantemente, uma guitarra tímida, arriscando umas notas, um baixo que entra aqui e ali e se deixa ficar, ecoando, prolongando o seu poder até ao limite do silêncio... E depois...
depois entra a voz, cantando, uma ténue melodia vocal, uma promessa, um murmúrio...
A dada altura entra a bateria, o som enche-se, há mais intensidade, a voz crispa-se, sem nunca perder a melodia, há aqui promessas de uma grande música... Uma guitarra distorcida, impõe um ritmo mais demolidor fugazmente... Sim.... A música promete... Há coros, há poder, há melodia, e há sempre a promessa de explosão, uma explosão hesitante....
E essa explosão acontece, mas nunca se deixa ficar, são momentos fugazes, entre-cortados por silêncios, uma viagem sufocante entre o silêncio e poder destrutivo do death metal...

A música versa sobre a guerra do Iraque, e que melhor banda sonora que esta? O medo, o silêncio, a tensão, com momentos fugazes de explosão, intensidade, violência...

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ìon - Beyond The Morning

Duncan Patterson é um dos melhores compositores de SEMPRE! A afirmação pode parecer exacerbada, mas conhecendo, mesmo superficialmente, a carreira deste irlandês, a afirmação só pode ser atestada sem margens para dúvidas.
Começando a sua carreira nos Anathema enquanto baixista, foi aí que Duncan começou a se aventurar na composição, e os seus primeiros passos foram mais do que promissores, e ao fim de poucos discos, já tinha em seu nome alguns clássicos, algumas músicas simplesmente arrebatadoras, e acabou por se aventurar com um amigo numa outra aventura, Antimatter. Aí, o seu culto solidificou-se, e quando abandonou a banda, e finalmente deu à luz estes Íon, o seu projecto mais pessoal de sempre, não houve nenhuma surpresa na beleza que o disco de estreia emanava...

"Beyond The Morning" é a última música do disco "Madre, Protégenos", e é o encerrar perfeito. Folk puro, beleza refrescante, uma guitarra deambulante, um piano subtil, e uma voz feminina arrepiante... uma melodia de uma beleza rara, a fragilidade das emoções rasgando cada recanto do nosso ser. O que estes quase 3 minutos nos dão é uma viagem pelas emoções mais puras da nossa alma (Íon é a palavra gaélica para pureza), como uma salvação, como a luz no fim do túnel, não enquanto promessa mas enquanto certeza. É o descanso do guerreiro, a aceitação final e definitiva do nosso ser. Uma música capaz de nos salvar, capaz de nos beijar a alma... uma música rara...

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(desisti de procurar no You Tube, a partir de hoje vou passar a usar o Mega Upload ou o Rapid Share para poderem sacar as músicas de que aqui falo, abram as vossas mentes, os vossos corações, as vossas almas... descobriram novos mundos de uma beleza arrepiante. promessa)

Jarboe & Phil Anselmo - Overthrown

Meter já os pontos nos is. Jarboe é a antiga vocalista dos Swans, Phil Anselmo antigo vocalista de Pantera, actualmente nos Down.

Esta música encontra-se no ultimo disco de Jarboe, Mahakali, mas com a excepção de algumas notas de fundo, algumas ambiências, que dão um toque sublime à música, a voz que preenche esta música é a de Phil Anselmo. O acompanhamento é deixado ao mínimo, uma guitarra acústica a encher o som, mas sem nunca exagerar, deixando respirar o silêncio, a voz de Jarboe, reproduzindo isoladamente o som majestoso dum coro, e um ocasional violoncelo a dar profundidade ao todo, aproveitando uma fugaz percussão residual de bombo... Toda a música assenta em diversas camadas da voz de Phil Anselmo. Quando se tem o melhor, a decisão mais inteligente é deixar tudo nas mãos do melhor. E Phil Anselmo, como sempre, atira-se à tarefa sem medos, sem complexos, explanando todo o seu poderio vocal, todos os seus registos tecnicamente irrepreensíveis, todo o talento e toda a classe por demais comprovada ao longo dos anos. Nesta música reduzida ao mais elementar, ao mais puro que poderá existir, mestres na arte musical demonstram da melhor forma que acima de toda e qualquer coisa que se pense ou analise, na música apenas uma coisa tem importância, a música em si, a canção em si, e não interessam nomes, não interessam egos, não interessam técnicas. A melhor técnica, a melhor arte é reduzir tudo ao mais elementar, limpar todas as coisas supérfulas e fazer arte com o que se tem, indo ao mais puro da emoção... excelente música, excelente lição. Aqui a música respira, e é tão bom ser bafejado por uma canção assim...

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Antony and the Johnsons - Dust And Water

Ninguem sabe ao certo como nasceu a música. Mas uma coisa é quase certa: terá nascido com a voz humana. A voz humana é dos instrumentos mais ricos que existem, bem treinada tem uma amplitude de oitavas que poucos instrumentos podem igualar, e o seu timbre varia de pessoa para pessoa, tornando-se um instrumento bastante mais pessoal, que consegue uma identificação muito mais imediata, daí muitas vezes, na música pop principalmente, a voz ser o único foco de interesse de quem ouve uma música, algo totalmente errado.

isto para falar duma música que acabei de ouvir. "Water and Dust". Primeiro ponto, nesta música a voz comete um erro fulcral tecnicamente, a dicção. Mas esse erro consegue ter um encanto encantatório (passe a redundância), e não conseguimos deixar de nos embrenhar na bela melodia, suave e etérea, e acompanhar o esvoaçar da voz por cima de um sampler de voz. Por momentos há resquícios de uma memória de África, como se de um espiritual negro se tratasse, criando uma paisagem vazia e imensa, que nos esmaga com a sua promessa silenciosa de uma qualquer divindade escondida algures...
A Música é a voz de Deus? É! E esta música prova-o, numa música acente única e exclusivamente na voz humana.

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(Infelizmente, como o álbum é recente, ainda não há nada no You Tube alem de duas singelas aparições ao vivo, ambas miseráveis, mas acreditem que no disco, a música é bastante melhor! talvez devesse disponibilizar a música para download... Não sei.... se pedirem muito faço-o :D)

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