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Virgin Black - Lacrimosa (Gather Me)



Há bandas que quando começam, têm um poder e peso apenas possível a adolescentes ainda com todo o fulgor da juventude. Depois com o tempo e a maturação, com o desejo de experimentar e variar, com a evolução natural de quem não quer ficar parado no mesmo sítio, acabam por mudar o som, geralmente para algo mais calmo.

Os Virgin Black fizeram exactamente o oposto! Quando começaram eram um banda que misturava música clássica, com gótico, doom, e alguns laivos de black metal ou música electrónica, mas nunca foram uma banda muito pesada. Até que...

Em 2008, inserido numa trilogia (que já lá vão 5 anos, sem nunca se ter visto a luz à primeira parte), sai para os escaparates "Requiem - Fortíssimo". A terceira parte de uma trilogia, que supostamente deveria ser ouvida em simultâneo. E nesta ultima parte, os Virgin Black fizeram um disco denso, cheio de distorção e vozes cavernosas. E esta Lacrimosa... esta Lacrimosa possui um peso e ao mesmo tempo uma beleza apenas disponível a bandas de eleição.

Ansiando desesperadamente, já há 5 anos, a primeira parte desta missa funerária. A parte que teoricamente deveria ser toda tocada por uma orquestra e coros.

Triptykon - My Pain



Confesso que só hoje ouvi este disco. Ainda não com muita atenção, uma singela audição com repetição de algumas faixas. Mas assim de repente, ainda sem ter crescido o suficiente dentro de mim, esta é a faixa que mais me despertou a atenção.

Muito mais calma que o resto do disco, pelo menos, sem distorção, e salvo erro, sem a voz desse monstro que é Tom G. Warrior, "My Pain" destaca-se no disco. E destaca-se muito bem. Um lick hipnótico programado, que se repete ao longo de toda a faixa, e vozes de fundo a dar uma ambiência que convida ao sonho e divagação. Quando entra a voz feminina, somos de repente elevados e enlevados por uma misteriosa sensação de conforto tépido, que deambula nos nossos sentidos, fazendo-nos desfrutar de toda a beleza do ambiente criado. Véus sonoros que nos embalam a mente. E como se tal sugestão sonora não fosse já por si suficiente, aquele ritmo da bateria que mais parece trip-hop, aquele lick que se repete e repete, e nos arrasta numa espiral de sensações acolhedoras, e aquela voz... Eis que perto do final somos mais uma vez encantados, desta vez por uma voz masculina, (que penso não ser Tom G. Warrior, mas que de  repente até parece Phil Anselmo no disco de Jarboe), e aquela voz quente, grave, penetrante, entra no todo tépido e queima os nossos sentidos desprevenidos numa chama incandescente apenas com o poder reservado da sua voz.

Um exercicío brilhante, por um dos maiores compositores europeus. Provavelmente não será uma música com grande rodagem, mas será sempre interessante ouvir numa noite quente de Verão enquanto se fuma um cigarro ao ao livre, olhando as estrelas no céu. De preferência sem luzes citadinas a atrapalhar.

Jorge Palma - À Espera do fim



Gravado em apenas uma via, ou seja, um microfone, que grava voz e piano ao mesmo tempo, "Só" é um disco à parte na discografia de Jorge Palma, é o best of que afinal nem é bem um best of. É pegar nas canções de Palma, despi-las, deixa-las cruas, orgânicas, com a voz a sussurrar, com o sangue a jorrar nas veias sob a pele quente, com os dedos a criarem magia sobre o teclado... E criar um monstro da música nacional! Um dos melhores discos de sempre, um marco que para sempre será um expoente máximo da música nacional.

E no meio de todas aquelas maravilhas do disco, houve uma música que logo se destacou, destacou de tal forma, que mesmo depois na masterização se elevou um pouco o som, se lhe deu um toque extra na compressão, que num caso normal até seria um crime, mas neste caso específico até prefiro ver enquanto a constatação que sim, esta era mesmo a música que melhor ficou no disco.

No meio de uma carreira ímpar na música nacional. Um disco. No meio de um disco especial, único, brilhante. Uma canção. No meio de uma canção... A Humanidade! Brilhante? Não. Algo mais...

John Lennon - Working Class Hero



John Lennon. Considerado por muitos como o grande génio da música do sec.XX, este senhor foi autor de algumas das mais belas músicas do século passado, quer na banda que o deu a conhecer ao mundo (The Beatles), quer a solo, que quer se goste ou não de admitir isso, é onde se encontram as suas maiores pérolas. Não falando do supra popular "Imagine", quase que unânimemente considerada a música mais popular de todos os tempos, a sua obra a solo possui momentos capazes de arrepiar qualquer ser humano com um minimo de sensibilidade. E este exemplo que pretendo falar, não querendo afirmar que se trata da sua obra-prima, decerto que pouca gente poderá ficar chocada ao afirmar que aqui, John Lennon consegue com um poder de sucintividade so possivel aos grandes génios descrever na perfeição um momento na vida de cada um de nós, e levar esse sentimento para o mais amplo da questão social da sua época. Musicalmente a musica só não é pobre porque é duma beleza, intensividade e raiva notáveis. Deixando todo o ênfase na letra e na emotividade da voz, o músico da-nos uma música acustica de apenas um acorde, não perdendo tempo com acordes, harmonias e tudo o demais que poderia retirar o sentido daquilo que a música realmente representa: o medo, a raiva, o desespero, a incógnita do Futuro de um jovem, as suas causas, a hipocrisia da sociedade que cria estes individuos, largando-os numa selva disfarçada de civilização. Talvez nenhuma palavra consiga descrever isto tão bem como a própria letra, e é isso que aqui vou deixar para todos vós, num exercicio de tradução.


"Assim que nasces fazem-te sentir pequeno
Tirando-te Tempo, em vez de to darem todo.
Até a Dor ser tão grande que deixas de sentir.

Magoam-te em casa, e batem-te na escola,
Odeiam-te se és esperto e desprezam um burro,
Até ficares tão confuso que não consegues seguir as regras.

Torturam-te e assustam-te durante 20 estranhos anos,
E depois esperam que escolhas uma carreira
Quando não consegues funcionar e estás cheio de medo.

Mantêm-te anestesiado com religião, sexo e televisão,
E achas-te tão esperto, sem classe e livre.
Mas para mim não passam da merda duns saloios.

Ainda te dizem que podes chegar ao topo,
Mas primeiro tens que aprender a sorrir enquanto matas,
Se quiseres ser como os gajos da zona chique."


Aqui não meti o verso do refrão, a ideia era mesmo mostrar a genialidade em tão poucas palavras, daquele que é na opinião da maioria dos melómanos, considerado o maior génio da música pop do sec.XX. Percebam o porque, e esta é só uma das grandes músicas que este senhor deixou para a Eternidade, antes de ter sido assassinado a porta da sua mansão por um fã, que se sentiu traído ao ver que enquanto ele cantava a revolta dos "heróis da classe média" contra o poder estabelecido da hipocrisia, o próprio vivia no maior luxo que o dinheiro pode comprar (até os caixotes do lixo eram de ouro). Ironias do destino?

Theatre Of Tragedy - A Rose For The Dead




Há mais de uma década atrás, quando o metal europeu se começou a expandir sonoramente, deitou mãos do gótico, uma ideia musical já bastante antiga, cheia de floreados, cheia de uma estranha beleza escura. E as mulheres começaram a tomar conta dos microfones, todas com vozes etéreas, quentes, sensuais, para enlevar os ouvintes no doce abraço negro de belezas obscuras.

No inicio era a Liv. E se a Anneke dos The Gathering era e ainda é o grande nome das senhoras no metal melódico, a senhora Liv Cristine, era por aqueles tempos com os seus Theatre Of Tragedy, um nome incontornável. Pessoalmente, ainda continuo a preferir os Theatre daqueles tempos a todas as bandas que se seguiram, e a todas as bandas que já existiram de senhoras a cantar góthic metal. A Rose For The Dead consegue exemplificar muito bem porque.

Uma melodia fantástica, uma voz que nos enche o peito, o contraponto da voz masculina a grunhir, aquela guitarra que se passeia num lick denso, o teclado que qual sombra branca ilumina todo o conjunto... Uma das melhores musicas do género. A matriz que foi imitada e explorada ao ponto da caricatura, mas sem nunca atingir tal beleza, tal intensidade, tal negritude...

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